terça-feira, 11 de outubro de 2011

Formiga

Antigamente as coisas mais singelas me fascinavam e me prendiam a atenção. Eu não era uma criança especialmente bonita nem inteligente, mas era curiosa. A curiosidade é uma qualidade — sim, uma qualidade — que sempre me levou e ainda me leva a querer saber e conhecer mais e mais. Passava horas dentro do meu pequeno eu interior com os meus questionamentos. Questionamentos aqueles talvez mais leves, mas não menos profundos e pertinentes que os de hoje.
         Eu me encantava com a força do vento que sacudia os telhados, as palmeiras e as pessoas; com os flocos de poeira que pareciam dançar na luz dos escassos raios de sol que invadiam os cômodos nos fins de tarde; com os pássaros construtores e cantores; com as pessoas desconhecidas que viravam personagens das minhas histórias e com as formigas.
         As formigas me interessavam como nada no mundo. Eu me concentrava e ficava tentando entender a vida daqueles seres minúsculos. De tanto observá-las, eu as humanizei. Acreditava que elas pensavam, que tinham preocupações, vontades e medos. Eu queria dividir meu conhecimento com elas, achava que as formigas poderiam aprender comigo, eu era a paciente professorinha e os pobres insetos compunham uma inusitada classe escolar. É claro que fui mal-sucedida.
         Das vãs tentativas de interação com as formigas na infância restou o pesar de nunca poder saber o elas pensavam quando olhavam para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário