O
chão não é só chão, é o chão do cansaço. O espírito caído no chão fecha os
olhos para a vastidão do mundo. Que mundo vasto, que espírito pequeno, que chão
imundo.
Os olhos pregados no céu — que
céu azul, gente! Deixando evidente que por ser céu ele não é só céu e também
não é azul à toa. O céu é uma coisa boa que mora em cada mente.
E a mente, morada do céu, que
voa nos ventos do acaso, revela-se um imenso vaso — tão vasto como o mundo é
vasto — e guarda dentro de si uns cacos de vidro moído, pedaços do pequeno
espírito que quer um dia ser grande pra caber no coração amante que foi
esquecido pela vida.
A vida (louca varrida) se esquece
que vive sem carne, sem água ou sem comida, mas não sem aquele amante, um
simples caminhante que mora na escuridão dos dias.
Os dias, acesos e claros, fingem
não saber que serão noite e no açoite do anoitecer tão tarde veem o tempo
descer.
O tempo, de armadura brilhante,
conserva o triste amante. Soprador do vento do acaso carrega o imenso vaso,
esmaga o chão do cansaço, levanta o espírito abatido, força abertura dos olhos
pra mostrar que o céu que carrega mais importa que a pequenez da alma, que a
ignorância da vida.
O vento do acaso empurra pra
longe do cais o barco que iça velas num arco, navega no mar inundado por águas
nem sempre tranquilas, mas sempre — e sempre — por correntes de fé são movidas.