sábado, 17 de dezembro de 2011

O tudo é azul

Azul é a cor mais bonita do mundo. E tem azul pra tudo que é lado. Tem azul no céu, na terra, nas ruas, nas casas, nos prédios, nos telhados, nas janelas e nas portas. Azul é a cor que prevalece.
         Tem azul pra tudo que é gosto. Tem aquele que é terno e que acalma. Tem aquele que é forte e que torna belos e sérios mulheres e homens. Tem aquele alegre como a infância. Tem aquele daquelas flores. Tem aquele daquelas outras flores. Tem aquele do dia. Tem aquele da noite.
         Tem azul nas montanhas, nas planícies e nas depressões. Tem azul nas rodas de carros, de bicicletas e de caminhões. Tem azul nas primaveras, nos invernos, nos outonos e nos verões.
         Azul é a mão, o pé e o coração. Os lábios são azuis. Azul é o beijo. A pele é azul, o suor é azul, a carne é azul e o sangue também.
         Azul é o pensamento, é o vento. Azul é essa chuva de dezembro. Os meses em geral são azuis. O mês mais azul é janeiro. Os dias da semana são azuis. Sábado é azul e, sem apelação, o domingo também.
         Deus é azul assim como o homem, os anjos, os santos e os bichos. Eu sou azul e você também. Azul é a cor que domina. Todas as demais são variações de azul ou têm pretensão de ser. Azul é a cor mais bonita do mundo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Preguiça

O ser humano é preguiçoso. E como! E é a preguiça que não nos deixa calçar uns tênis e ir correr um pouco, cansar o corpo para que a mente melhore. É por causa da preguiça que não conseguimos colocar os óculos na cara para ler um livro.
         Sensação de solidão, por preguiça não damos um simples telefonema. Por preguiça não damos uma chance a felicidade. Ser feliz é questão de estar disposto, ser capaz de vencer a prostração.
         Mudar pode até ser custoso, mas é tão necessário para viver quanto respirar. Sofrer pode até não ser escolha, prolongar o sofrimento, porém, é.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Formiga

Antigamente as coisas mais singelas me fascinavam e me prendiam a atenção. Eu não era uma criança especialmente bonita nem inteligente, mas era curiosa. A curiosidade é uma qualidade — sim, uma qualidade — que sempre me levou e ainda me leva a querer saber e conhecer mais e mais. Passava horas dentro do meu pequeno eu interior com os meus questionamentos. Questionamentos aqueles talvez mais leves, mas não menos profundos e pertinentes que os de hoje.
         Eu me encantava com a força do vento que sacudia os telhados, as palmeiras e as pessoas; com os flocos de poeira que pareciam dançar na luz dos escassos raios de sol que invadiam os cômodos nos fins de tarde; com os pássaros construtores e cantores; com as pessoas desconhecidas que viravam personagens das minhas histórias e com as formigas.
         As formigas me interessavam como nada no mundo. Eu me concentrava e ficava tentando entender a vida daqueles seres minúsculos. De tanto observá-las, eu as humanizei. Acreditava que elas pensavam, que tinham preocupações, vontades e medos. Eu queria dividir meu conhecimento com elas, achava que as formigas poderiam aprender comigo, eu era a paciente professorinha e os pobres insetos compunham uma inusitada classe escolar. É claro que fui mal-sucedida.
         Das vãs tentativas de interação com as formigas na infância restou o pesar de nunca poder saber o elas pensavam quando olhavam para mim.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

14 de julho de 2011, quinta-feira


21, 22 e 23 de agosto

21 de agosto de 2011, domingo.

Hoje parece ser o reverso de ontem. É assim que a vida tem sido ultimamente, uma constante mutação, evolução. Ser eu, lutar por mim, aceitar minhas vontades, cultivar minha inteligência e abrir meus horizontes têm sido os meus maiores objetivos. Tenho me importado cada vez menos com o alheio. Não é egoísmo, é sobrevivência. Até porque, se faz parte da minha vida, faz parte de mim e, portanto, faz parte do que é importante, do que me leva pra luta de cabeça erguida, peito aberto, alma limpa, sem trapaça, mãos vazias.
         Minhas mãos carregam marcas, são imperfeitas como eu. Que eu sou feita de erros. Sim, são eles que me fazem crescer. As conseqüências me levam a chorar e é assim que eu aprendo a secar as lágrimas. Levam-me a gritar e é assim que aprendo a calar. Levam-me a mudez e é assim que eu aprendo a recuperar a voz. Furtam-me o ar e é assim que aprendo a utilidade dos meus pulmões. Inspirar e expirar. Suspiro. É na falta de palavras que aprendo a pensar.
         O vento frio me refresca e me estremece. Estremeço ante a possibilidade de voltar a ser o que era. Só que não há arrependimento porque tudo — TUDO — o que já fiz, todos os meus passos cambaleantes, todos os desvios, bifurcações e atoleiros compõem o caminho que me trouxe até aqui.

...

Ainda é hoje. E por falar em hoje, o amanhã é uma coisa estranha porque, quando for amanhã, o amanhã passa a ser hoje e as esperança passa a ser fato. Sou muito dada a esperanças, eu sonho porque é de sonho que somos feitos e é isso que nos faz levantar da cama, de cada tombo. É isso que me move. Vontade de concretizar os sonhos. É!

22 de agosto de 2011, segunda-feira.

Amanhã já é hoje e o tempo flui como água corrente. Eu me sinto como um rio, sempre a mesma, mas não a mesma sempre.

23 de agosto de 2011, terça-feira.

Finalmente faz sol! Ainda não dá pra se abanar e morrer de calor, mas já é um bom sinal. Eu esperava pelo menos um dia quente e ele veio. Quando se espera o melhor é mais fácil. Isso serve também, e principalmente para as pessoas.

7 de outubro de 2011, sexta-feira

A incerteza me comove. Eu me olho no espelho todos os dias pra conferir se sou eu mesma que estou ali. O meu eu enantiomorfo me retorna um olhar desconfiado, querendo saber se aquela ali é a mesma do dia anterior.
         Eu queria ser comum, juro que queria, mas eu não consigo. Eu não sei ser assim. Não aceito ser limitada. Não aceito ser subestimada, não aceito ser superestimada. Só aceito que me estimem.
         Eu sempre pergunto por que. Quero saber o porquê de tudo. Não entro na fila sem saber porque e não saio sem saber também.
         Seria bem mais simples se eu engolisse tudo o que me enfiam  goela abaixo com resignação. Todo mundo faz isso. Mas eu não. Eu cuspo, eu vomito o quanto for necessário.
         Eu juro que eu queria ser comum.