sexta-feira, 23 de março de 2012

Declarando Variáveis


O chão não é só chão, é o chão do cansaço. O espírito caído no chão fecha os olhos para a vastidão do mundo. Que mundo vasto, que espírito pequeno, que chão imundo.
                Os olhos pregados no céu — que céu azul, gente! Deixando evidente que por ser céu ele não é só céu e também não é azul à toa. O céu é uma coisa boa que mora em cada mente.
                E a mente, morada do céu, que voa nos ventos do acaso, revela-se um imenso vaso — tão vasto como o mundo é vasto — e guarda dentro de si uns cacos de vidro moído, pedaços do pequeno espírito que quer um dia ser grande pra caber no coração amante que foi esquecido pela vida.
                A vida (louca varrida) se esquece que vive sem carne, sem água ou sem comida, mas não sem aquele amante, um simples caminhante que mora na escuridão dos dias.
                Os dias, acesos e claros, fingem não saber que serão noite e no açoite do anoitecer tão tarde veem o tempo descer.
                O tempo, de armadura brilhante, conserva o triste amante. Soprador do vento do acaso carrega o imenso vaso, esmaga o chão do cansaço, levanta o espírito abatido, força abertura dos olhos pra mostrar que o céu que carrega mais importa que a pequenez da alma, que a ignorância da vida.
                O vento do acaso empurra pra longe do cais o barco que iça velas num arco, navega no mar inundado por águas nem sempre tranquilas, mas sempre — e sempre — por correntes de fé são movidas.

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